quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Recentes inquietações


Obter uma práxis pedagógica perfeita para a produção completa de conhecimento e um aproveitamento de cem por cento dos objetivos citados em qualquer projeto é como querer tocar um espírito mesmo vendo-o de forma material. Aliás, comecemos este portfólio problematizando conceitos: 1) perfeição. O que vem a ser algo perfeito? O discurso modifica todo e qualquer parâmetro para criar o critério desta palavra. Os valores, o conceito de organização e a própria estrutura do pensamento, além de saber da inexistência denotativa deste vocábulo. 2) conhecimento. A meu ver, a escola – instituição responsável pela socialização de conhecimentos – ainda não definiu muito bem quais os tipos de conhecimentos dignos de serem socializados em uma unidade escolar. Portanto, a partir de estudos e vivências, estabeleço neste portfólio alguns critérios (o qual acredito eficazes para um processo de construção educacional dentro de uma realidade brasileira, baiana e Alagoinhense) e algumas insatisfações ocorridos durante um semestre de Estágio II – componente curricular do curso de Letras Vernáculas da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, para o semestre VI.
Este portfólio trata de um relato sobre as oficinas ministradas como um dos critérios de realização da carga horária estabelecida para atender o crédito do componente curricular ministrado pela Profª Msª Aurea da Silva Pereira. Todas as oficinas tinham como objetivo estimular e, se possível, desenvolver a leitura nos estudantes que compartilharam esta experiência.
Prezando por uma diversidade entre as perspectivas de trabalho dos estudantes do semestre VI, quis aliar a prática leitora com a vida que já exerço profissionalmente há algum tempo. Trabalhando não só área de educação, mas educando a partir de uma preferência profissional – artística, mais precisamente, o teatro – propus oficinas voltadas para uma prática leitora a partir da experiência artística, não só pelo contato leitor, mas também pela vivência. No total, foram oferecidas seis oficinas no percurso de quatro meses (de setembro a dezembro).
Estas oficinas também ocorreram devido a forte ligação com a prática de pesquisa desenvolvida pelo Campus II da UNEB. Como sou um pesquisador na área de letras e meu objeto de pesquisa é o fazer teatral[1], envolvendo assim, a construção do processo literário e linguístico neste campo. Estabeleço nos meus estudos uma relação entre a teoria das artes cênicas e a área de letras. Tal relação é notoriamente possível, visto que o teatro lida diretamente com o gênero dramático e constrói em todos os seus elementos signos linguísticos, além da área de letras ampliar os seus horizontes e tomar para si a responsabilidade das leituras de linguagens.
            Segundo os parâmetros curriculares do ENEM, a terceira competência estabelece também algo pouco utilizado tanto nos estudos de linguagens na escola como no curso de letras: “Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da identidade.”[2] O teatro, prática artística da ação, do movimento interno e externo, da inquietação pode ser uma grande arma para estar a serviço do incentivo à esta prática de leitura.

(...)

Acredito demais na arte como um instrumento transformador dos sujeitos. Acredito mais nela do que o processo de educação escolar. Aprendi a escutar devido ao teatro, aprendi a respeitar vivendo e entendendo outros personagens, aprendi a ler vendo que precisava (como preciso) estudar cada vez mais por aquilo que gosto e aprendi com o teatro a compreender que para criar asas precisava fechar ciclos - e um deles foi a escola básica – e é isso que estou fazendo.
            Sinto-me muito um educador, principalmente pela idade que tenho e no lugar de onde falo. Mas percebo o quão mais funcional é, para mim, o trabalho com o produto artístico. Não sou um educador da lousa e do caderno, não consigo falar pelos livros didáticos, não suporto o esquema da direção de uma escola com suas cadeiras muito arrumadas, com seu medo de ser subvertido. Não, lá no teatro, subverter é a ordem. Na escola, subversão é abominável. Enfim, reconheço a importância deste curso na minha vida e como isso vai refletir em todas as minhas ações, mas quero que sejam refletidas nas minhas ações artísticas. Sou um educador, mas minha sala de aula é um pouco diferente da qual costumo ver.
            Embora perceba que gosto muito mais da minha vida enquanto artista, no momento em que estou aplicando as aulas, senti um grande prazer em poder dialogar com gente. A experiência com as oficinas possibilitaram isto, pois não há um cronograma coordenado por pessoas preocupadas com o conteúdo daquela série e daquele livro didático para a construção do ‘conhecimento’ do estudante.  Trabalhar com oficinas, para mim, que já estou exercendo minha função enquanto professor, mostrou uma abertura maior para a realização de trabalhos mais emergentes para a situação educacional brasileira. O que se vê é um povo necessitado, antes de qualquer coisa, de um entendimento do seu lugar enquanto brasileiro, baiano e alagoinhense e de oportunidades para perguntar, perguntar e perguntar. Quando isso estiver claro para todo mundo, aí sim vai fazer um grande sentido eu mostrar o quão apaixonante é trabalhar com as formas e funções da nossa língua (entender a nossa sintaxe é algo muito belo, sim) e como a brincadeira com a linguagem pode dar força e um sentido único a um texto. 
Mas enquanto seu lobo não vem, vamos testando e utilizando nosso poder de sermos ambivalentes. Vendidos e não-vendidos. Idealistas e realistas. Vamos à vida.



[1] Sou estudante bolsista de iniciação científica com o subprojeto Aspectos obsceno no teatro popular de Lourdes Ramalho, financiado pelo PIBIC/CNPQ e integrante no projeto Acervo de Memória e Tradições Orais da Bahia: Outras Linguagens, coordenado pela Profª Drª Edil Silva Costa.
[2] Disponível em , acessado em 18 de janeiro de 2011.


__________________________________________________________________________
Trecho da introdução do meu relatório de Estágio para apresentar no curso de Letras da UNEB, ainda falta fazer os diálogos com os teóricos, e coisa e tal e tal e coisa, mas ando muito inquieto com algumas posturas (inclusive minhas). Estou neste momento escrevendo o relatório que pelo visto vai dar umas 40 páginas... afff... e ainda tem Estágio III e IV.

Nenhum comentário: