segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Carta I

MásCaras
CARTA I

Salvador, 14 de maio de 2010

Amós,

Não consegui dizer uma vez na vida por mim para você. A minha boca é seca demais para professar as palavras tão bonitas que queria saindo dela. Mas engraçado, escrever eu consigo. Deve ser pelo costume com o desnudamento das palavras. Então, deixa eu tentar ser objetiva: apesar de não parecer, continuo amando. Só acho que não sei amar e não sei o que seria de mim sem o seu entendimento por tanto tempo do meu jeito de ser. Você cansou, Amós? Por favor, tomara que seja uma mentira. Eu não acredito neste momento vivido por nós dois. Com certeza deve ter sido um sonho mal-vindo, uma pegadinha do destino, uma alerta.Você não pode estar cansado de mim, nem me equiparar as suas velharias do quarto, eu não estou nele e nem nunca estarei. Prefiro ficar e sair como uma surpresa de algumas noites apenas. Não aceito o seu cansaço e nem a sua alma diante destes fatos. Você não pode encarar com tanta simplicidade o seu inexorável ato de amor, Amós. NÃO PODE, NÃO PODE E NÃO PODE! .......................... Nunca pensei na possibilidade de um homem cobrar caricias de uma mulher. Você realmente estão mudando.  Perdoe esta pobre criatura que não sabe expressar seus sentimentos. Penso em você a todo instante, Amós. Em todos os planejamentos está você.

Não concebo a existência da minha carne sem sentir ao menos o cheiro da tua de longe. Não, Amós, não faça isso comigo. Porque a minha face tem a ver com a minha vida por completo, não com você. Não resta outra solução para mim, é impossível viver como uma adolescente de quinze anos e seus sonhos de boneca, não consigo mais enxergar o mundo com ideais e fantasias e promessas de futuro. O meu futuro já acabou. Não dá mais tempo de tentar, tudo, tudo foi embora e a única coisa digna de um brilho nos meus olhos é você, embora não tenha percebido a permanência destes.

Esquece tudo o que fizestes, põe de volta ao menos o seu sentimento dentro de ti. Em momento algum o meu fez menção de mover-se para fora de uma mente vazia como a minha. Tão cheia de soluções nos livros e agora vejo a falta da solução para mim, só sirvo e sirvo para o resto do mundo.MERDA! Sabe, eu acho que escrever me deprime. Péssima escolha esta de profissão, perceber o mundo, analisar casos, ler gente, ler miséria e felicidade, viver vidas inventadas, inventar vidas reais, não, é demais para mim. É angustiante demais passar tanto tempo inventando as coisas para os outros. Perceber tantas possibilidades e eu aqui, sentada nesta cadeira só imaginando enquanto os outros estão vivendo, enquanto você poderia estar vivendo. Ah, e eu não agradeço a você nos meus livros porque sei que não queres guardar nenhum deles na sua estante. Seu  nome neles não seria motivo motivo de orgulho para você, ao menos era o que pensava. Sei que os detesta e se pudesse, queimaria todos eles e quebraria os meus braços para que eu nunca mais escrevesse.  Eu sei o quanto odeia o meu lugar e o quanto suportastes por amor a mim.

Amós, ter a sua história ligada à minha é uma necessidade que tenho. Não jogue fora as nossas tristezas assim, choremos juntos e não separados como quem não merece ter uma companhia para se sentir mais gente. Eu não imaginei que um dia tivesses a coragem de me largar. Confesso nunca ter parado para pensar na possibilidade de não estarmos juntos e tampouco na ideia de ser só. Não conseguirei viver sozinha nesta etapa da vida. Vou me esforçar para demonstrar o meu verdadeiro sentimento por ti. Crie o tempo para esta tentativa, eu já o criei em mim e já ouço o tic-tac pulsante dele.

Amanhã, quando chegares do emprego, estarei na sua casa, sem notebook e sem celular. Somente com um vinho.

E Amós, 
eu te amo. 
E não minto.
Abraços como os que há muito não temos,
Fieda

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