sexta-feira, 31 de julho de 2009

Concordância verbal e sentimental

Andei pensando como pôr os verbos cada um em seu lugar
Se sou eu, enfio o verbo ser e em alto e bom tom digo: eu sou.
Se és tu, digo agora que não és. Só serás caso possas escolher o que queres.
Aliás, também não sou. Sou o que não sou. E o verbo mente para mim.
Se queres pôr o verbo em tua boca, diga-o com lamento que o verbo,
Essa ação imaginária, esse movimento doutrinado,
É um grande verborrágico.
E o verbo, aquele que diz a verdade, fala baixinho dois deles: esconder e precisar.

Se ele é o verbo, que diga então qual verbo é, e a partir daí verbalizarei com ele.
Se vós sois os verbos, sejam então aqueles macios, que acalentam,
que sussurram em boca de gente boa,
sejam verbos pequenos: doar e amar.

Se eles dizem que são, abro a boca e digo: NÃO SÃO.
Porque aqui, na vida real, o verbo não concorda com o sujeito. Vamos fugir da regra.
Já que o pronome precede e engana o verbo, a mentira é muito grande.
O nós, concorda com a primeira pessoa do singular.
O vós, concorda com a primeira pessoa do singular.
O eles, concorda com a primeira pessoa do singular.
Do singular.
A singularidade do verbo é a capacidade de nos enganar.
Concorda? Eu sim. A gramática não. A boca não. O coração sim.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Carolina sofre. Ele é mudo. Não fala de suas vontades, seus anseios, medos e traumas. Não diz uma palavra sequer da sua vida – sua infância, adolescência, seus antigos amores, o que prestou e não prestou na vida. Carolina deitava na cama com o mudo, o tocava e o olhava, e via nos seus olhos que ali existe um grande campo a ser desvendado. Não porque Carolina era futriqueira, mas porque ela o amava e gostava de saber o que machuca e o que não machuca seu homem, o que já o fez chorar, porque não basta só o conhecimento da pele, é preciso se entregar de alma também e isso faz com abramos o baú da vida, gostava de conhecer melhor.
O mudo não entendia essa situação e permanecia a silenciar sua história. Talvez para ele, de que importava saber do passado se hoje ele vive de forma completamente diferente. E ignorou a curiosidade de Carolina. A coitada pensou de tudo: “Será que não há confiança o bastante? Será que é aconteceu algo de grave? Ele é feliz hoje? Será que ainda não sou a pessoa certa para ele compartilhar tudo?”. Talvez seja um pensamento cristão e de acordo com as morais essa mania de um casal compartilhar tudo, saber da vida da pessoa e assim procurá-la conhecer melhor (já que se morre e não se conhece), mas era importante para ela, criada como cristã sempre, realizar alguns dos procedimentos necessários para ficar claro na cabeça dela o conceito casal. Era uma limitada sim, mas não sentia vergonha disso.
Carolina decidiu questionar, procurar saber, perguntar. E o mudo só abriu a boca pra resmungar e calar Carolina. Não era aquilo que ela pretendia ouvir. Não é por mal que tem vontade de saber com quem deita, dorme, beija, acaricia. Mas o mudo não entendeu que isso era importante para ela, ao menos para ela. E se amavam.
Carolina emudeceu, ensurdeceu e esfriou o coração.