quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

deveria ter gozado
e não te esperado

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

"Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe..."

As palavras e o estômago


 Ah, se todos os momentos fossem o feijão com arroz....
Não, não dá!
é preciso por poesia na comida, um molho diferente, um peixe, um frango no domingo
é preciso por tempero na poesia, não um sazón, mas aquele que minha mãe faz
primeiro ela machuca tudo, depois corta uma cebolinha, uns tratos de verde
tudo pilado e colocado no caldinho marrom do feijão que a Bahia toda come: o carioca

Ah, se tudo se resolvesse num triturador...
Não, não pode!
é preciso dar movimento no modo de mexer no fogão
é preciso que a poesia mexa, não nas hélices de um liquidificador, mas nas cadeiras de minha mãe
com uma colher de pau nas mãos, ela passa a manhã olhando a comida boa que dará aos filhos: a palavra

Ah, se eu me alimentasse só de líquidos...
Não, não desce!
é preciso respeitar a nossa vontade de mastigar
é preciso que a poesia pare, rode, suba, desça e só aí ela estará fixa no meu estômago
preparando um bom bolado de bosta para jogar fora aquilo que eu tinha em mim: a vergonha

Se há poesia, eu posso, minha mãe
comer o feijão com arroz alguns dias
aceitar uma comidinha de liquidificador
e só beber em alguns momentos
Se há poesia, a rotina é uma roda
e muda
Mãe, o que você vai fazer amanhã?
Mãe, o que você vai dizer amanhã?


Daniel Arcades