segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Prostituta





Peguei na vida
A vida como profissão
E dei luz a uma vida




Perdi a profissão da vida
Ganhei o sofrimento então.
Sem a profissão da vida,
Não dei vida a vida que dei
E então dei morte a essa vida
Que um dia,
Graças a profissão da vida,
Dei a vida,
O que me resta?
Só a vida

Mas por favor,
Leve a minha vida

A minha vida, que hoje é parada como a morte.



Esse texto foi escrito em 15.04 de 2004


quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Balada triste entre uma cerveja e uma coca-cola


Estava lado a lado
E era como se nada acontecesse
Como se não nos conhecêssemos
Ela num copo cheio de sorrisos
E eu num copo vazio,

O pior é que a danada não mexia um dedo para mim
E toda a nossa pele se dividia em pedaços,
Todos os meus olhos sumiam de dentro de mim
E olharam para ela
Ah... O mundo se fez em estilhaços.

Quis xingar, chamar a atenção
Gritar que está tudo acabado,
- Vai-te embora cão!
Quis falar de tudo o que me agoniava,
Quis bater, cuspir, sofrer
Quis acabar com a situação.

Ela não moveu um dedo para mim
Ai, que esse silêncio me agonia cada vez mais
Ai, que essa lamúria me angustia e me tira a paz
Ai, como eu quero sumir
Ela não moveu um dedo para mim

Vontade de levantar e me ver longe de verdade
Mas aí eu só fazia encher a sua vaidade
Que ódio que eu senti de ti
Fera que não moveu um dedo para mim

Está se sentido mal?
E os sorrisos lançados no copo amarelo?
E a tristeza que me deu e vem me dando?
E o silêncio que me atormenta e me faz querer parar?
Pra onde foi ontem à noite? O que conversou?
Em que mundo você está?

Estava lado a lado,
Sorrisos audíveis,
Sorria enquanto chora para mim
Ah, que vontade de te fazer sumir
Vai-te embora do meu chão
Vê se dá um sossego para o coração
Porque não me diz não?

Sei que o amor faz assim
Mas sei que dá pra não ser
Nem sempre é lado a lado,
Mas longe, longe de mim.
Eu não suportei ficar assim.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Concordância verbal e sentimental

Andei pensando como pôr os verbos cada um em seu lugar
Se sou eu, enfio o verbo ser e em alto e bom tom digo: eu sou.
Se és tu, digo agora que não és. Só serás caso possas escolher o que queres.
Aliás, também não sou. Sou o que não sou. E o verbo mente para mim.
Se queres pôr o verbo em tua boca, diga-o com lamento que o verbo,
Essa ação imaginária, esse movimento doutrinado,
É um grande verborrágico.
E o verbo, aquele que diz a verdade, fala baixinho dois deles: esconder e precisar.

Se ele é o verbo, que diga então qual verbo é, e a partir daí verbalizarei com ele.
Se vós sois os verbos, sejam então aqueles macios, que acalentam,
que sussurram em boca de gente boa,
sejam verbos pequenos: doar e amar.

Se eles dizem que são, abro a boca e digo: NÃO SÃO.
Porque aqui, na vida real, o verbo não concorda com o sujeito. Vamos fugir da regra.
Já que o pronome precede e engana o verbo, a mentira é muito grande.
O nós, concorda com a primeira pessoa do singular.
O vós, concorda com a primeira pessoa do singular.
O eles, concorda com a primeira pessoa do singular.
Do singular.
A singularidade do verbo é a capacidade de nos enganar.
Concorda? Eu sim. A gramática não. A boca não. O coração sim.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Carolina sofre. Ele é mudo. Não fala de suas vontades, seus anseios, medos e traumas. Não diz uma palavra sequer da sua vida – sua infância, adolescência, seus antigos amores, o que prestou e não prestou na vida. Carolina deitava na cama com o mudo, o tocava e o olhava, e via nos seus olhos que ali existe um grande campo a ser desvendado. Não porque Carolina era futriqueira, mas porque ela o amava e gostava de saber o que machuca e o que não machuca seu homem, o que já o fez chorar, porque não basta só o conhecimento da pele, é preciso se entregar de alma também e isso faz com abramos o baú da vida, gostava de conhecer melhor.
O mudo não entendia essa situação e permanecia a silenciar sua história. Talvez para ele, de que importava saber do passado se hoje ele vive de forma completamente diferente. E ignorou a curiosidade de Carolina. A coitada pensou de tudo: “Será que não há confiança o bastante? Será que é aconteceu algo de grave? Ele é feliz hoje? Será que ainda não sou a pessoa certa para ele compartilhar tudo?”. Talvez seja um pensamento cristão e de acordo com as morais essa mania de um casal compartilhar tudo, saber da vida da pessoa e assim procurá-la conhecer melhor (já que se morre e não se conhece), mas era importante para ela, criada como cristã sempre, realizar alguns dos procedimentos necessários para ficar claro na cabeça dela o conceito casal. Era uma limitada sim, mas não sentia vergonha disso.
Carolina decidiu questionar, procurar saber, perguntar. E o mudo só abriu a boca pra resmungar e calar Carolina. Não era aquilo que ela pretendia ouvir. Não é por mal que tem vontade de saber com quem deita, dorme, beija, acaricia. Mas o mudo não entendeu que isso era importante para ela, ao menos para ela. E se amavam.
Carolina emudeceu, ensurdeceu e esfriou o coração.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O ciclo de Geni e da Bola de sebo

A madame ainda come bem, mas vende seu corpo.
A boneca dá o corpo aos errantes.
Comamos então a madame e apedrejemos a boneca.
Comamos suas carnes gordurosas que sujam a população e sacia a fome de pecado.
Apedrejemos aquele que não é o que é e dá de comer aos corpos sujos.

Salvem as nossas vidas!
Não comamos nem apedrejemos. Que as pedras e os espetos fiquem guardados.
Que passe a noite e amanheça calmo o dia,
Nossas vidas ainda estão aqui.

Comamos então a madame e apedrejemos a boneca.