sábado, 4 de junho de 2011

MOMENTO II

MásCaras
Momento II

Eu vim. E vim para mudar o que escrevi na carta.
Eu já entendi. Já sei porque chegamos aqui.
Eu queria, Amós, antes de sair daqui, ouvir um “eu te amo” pela sua boca. Quem nunca me disse isso foi você e não eu.
Hoje você vai dizer "EU-TE-A-MO". Acredite, eu ainda preciso da sua fala. Eu não quero desculpas para que você finja que falou: “É claro que sim, Fieda.”, “Será que não...”, “Que pergunta, Fieda!”. Só quero as palavras, só elas são responsáveis para que eu saia com gozo daqui. Só aceito "Eu te amo".
Nunca tive uma declaração de amor pública na vida. Sabe o que é isso, Amós? Não, uma pessoa tão adorável como você não pode saber. Todos te amam e dizem que te amam. Você não sabe o que é isso, Amós, para uma pessoa como eu que vê e ouve tantas histórias de amor o tempo todo. É isso o que faço horas e horas na net, caçando e vivendo histórias de amor que não são as minhas. Porque na minha não constam declarações, ligações para dar um boa noite, um sentimento de saudades, vontade de morar junto. Na minha história, pouco existe a palavra nós.
Você pensa em comprar a sua casa, Amós.
E eu sempre pensei em comprar a nossa.
Você pensa em trazer tudo seu.
E eu pensando em misturar tudo nosso.
 É, acho que as gaiolas podem aparecer abertas para mim. Você tem razão.

Amós:E então tudo amornou. Você idealizou a nossa relação.

Não é questão de idealizar ou não. É de deixar claro.De viver. De querer e dizer que quer. E ser amada de verdade, não na suposição de que há amor. Ter o ego garantido por uma única pessoa que não fosse a própria. Ter certeza de que há plenitude nessa relação. Era só por isso e você não me deu.
Esperei uma entrega maior, um ano, dois, três...Eu só vim porque estava intalada. E hoje você vai dizer com todas a letras que me ama, sabe por quê? Porque está diante dos seus olhos o momento do nosso fim. Pode dizer, eu só quero ouvir isso. Diga...

Não tenha medo de utilizar essas palavras. Você já deve ter usado algum dia. Use-as comigo, vamos...

Amós: Fica.

Tudo bem, eu já não amo ao ponto de querer ouvir isso. Só queria saber até onde vai a brincadeira...

Amós:  Escreve para mim.

Escrevo.