sexta-feira, 11 de abril de 2008

Os fracos não têm vez

Ser Jovem é ser nada.
É viver constatemente no mundo de abutres onde os filhos não têm vez e só os pais podem brigar, fingir, mentir, matar.
Trazer o título de jovial é carregar consigo muitos outros títulos:
-Falta experiência! Incompetente pra quase tudo! Acha que o mundo vai terminar amanhã! Simplista! Complicado! Menino...
Carregar nas costas o símbolo da promessa da possibilidade do que virá a ser - exijo uma enfâse no substantivo possibilidade e no verbo vir - é a mais dificil tarefa em meio a pessoas que já deixaram de ser uma promessa, que já não são mais uma esperança. Ou já são ou nunca serão.
A juventude também é culpada. É fraca, porque não pede o que não tem, não briga pelo o que quer e não mostra o que é.
Para todos, e talvez para a própria juventude por uma questão de internalização, é um simples complemento de vida pra servir de lembrança nos corpos adultos e dignos de participarem da atividade terrestre. Ela é somente a bebida irresponsável, o sexo carnal que nunca um matrimônio conseguiu reproduzir, é a vontade de calar enquanto grita, é o corpo sadio à espera das rugas, enfim, é o tempo da fantasia que não serve pra nada. Os adolescentes existem para serem lembranças e amenizarem a dor de ser velho.
E as nossas palavras? E os nossos gestos? E nós?
Como eu queria ser ativo no chão onde piso, caminhar com tronco elevado, olhos fixos e palavras consistentes. Como eu queria deixar de ser a promessa e simplemente ser o pedaço que sou; desse jeito, com olhos, boca, pele e coração e sem cérebro.
Como é dificil para o mundo entender as limitações e conviver com elas. Nós não sabemos viver em nenhum momento da nossa estrada. Eu, um jovem, não sei viver; serei adulto e ainda assim não saberei. Como é dificil conviver entre os mais e menos limitados. As classes dividem-se e jogam fora quem quer que seja na hora que acham não precisar mais dessa pequena figura. E tudo o que já foi feito é inútil para uma nova realização. As palavras e os gestos mudam.
O carro correndo a 200km/h freia sem gasolina.
Os filhos-fracos crescem e desacreditam n'outros filhos-fracos.
Os abutres continuam a brigar pela comida para dar ao filho. Claro, porque o filho não consegue pegar um minímo de comida que seja. Ele não tem vez.
E por não ter vez é que só os adultos são competentes. Por não ter vez que ele não pode ser, não pode ganhar e não é. Não há vagas para quem quer, só para quem tem.
Não serei pai. Quando eu tiver, não vou criar alguém que quer e vê-lo sofrer por isso para ter e criar outro querer, que terá um que quererá, e terá mais um... outro e outro.
Ser jovem é ser nada.
E você? O que é?

Um comentário:

Géssica Costta disse...

MeninO... =)*


TÔ bege,tÔ bege, tÔ rosa....

Muito mais muito profundo isso.
Vc sabe expressar uma coisa que me encoraja toda vez que eu leio alguma coisa que vc escreve, gente é muito profundo, tocante e emocionante tudo que vc posta.
Me faz refletir de mais tudo que vc escreve, simplismente vc é maravilhoso pra karalho.
Daniel meu filho se vc virar escritor, eu vou comprar todos seus livrO.
Vc é muito maravilhoso.
É, me dei conta que jovem é ser nada...
E eu?Nem sei o que sou!

Parabéns,Parabéns!
Fica com Deus e que ele ilumine seus caminhos!
Muitos xerOs!